Especialistas contestam valor da Revolução Sexual de 68


Foi no auge de 1968 que as proibições caíram por terra. Os códigos morais, religiosos e econômicos que reprimiam os impulsos de homens e mulheres foram contestados. A combinação de protestos estudantis, movimentos contra-cultura e contraceptivos levou à liberação sexual. As conquistas dessa revolução sobreviveram, mas seu valor ainda é contestado. "A verdadeira revolução sexual ainda está por vir", afirma a sexóloga francesa Elisabeth Daibleu.




O termo "revolução sexual" é comumente usado para descrever o movimento sócio-político testemunhado entre meados dos anos 1960 e início dos anos 1970. As mudanças estavam no ar e foram o estopim dos eventos que marcaram Maio de 68, que tiveram início quando alguns estudantes da Universidade de Nanterre exigiram o direito de dormir juntos nos dormitórios do campus. A partir daí surgiram novos códigos comportamentais relacionados à sexualidade em todo o mundo.

A sociedade foi modificada 40 anos atrás, mas ainda se vive sob regras arbitrárias, explica a psicóloga Marcela Lacube. "Acreditar que saímos de um mundo injusto para a liberdade total é um absurdo. Nós simplesmente mudamos os contratos, quem dá as cartas agora é o sexo e não o casamento. Um conjunto de regras sociais transformou a sexualidade de um simples ato de procriação a fundamento básico do nosso bem estar psicológico", diz a psicóloga Marcela Lacube, estudiosa da nova ordem sexual. "A copulação e a procriação, duas experiências da natureza humana que costumavam andar juntas, foram separadas por que assim optamos".

"A família passou a se organizar em torno do útero fértil das mulheres. Essa nova convenção permitiu a elas a oportunidade de optar pela gravidez, mas na sociedade contemporânea o homem não tem direito de pedir o aborto e isso o coloca diante da possibilidade de uma paternidade imposta. A liberdade de procriação não é completa, já que cobre apenas metade da população", explica Daibleau. Ainda que as feministas tradicionais vejam isso como "uma vingança contra os homens e o patriarquismo" é preciso entender o conjunto do que se vive. Após uma revolução que mudou radicalmente os parâmetros culturais as pessoas continuam extremamente presas a valores antigos, explica Lacube. "Não vivemos uma sexualidade livre da mesma forma que não vivemos numa sociedade livre. Ainda somos vítimas de pré-julgamentos impostos pela moral que permeia o meio em que vivemos, ainda que eles estejam camuflados", diz.

A forma como a lei encara a prostituição, o aborto e até mesmo certas práticas sexuais na maioria dos países não mudou muito desde 1968. O mesmo acontece com o tratamento dado às mulheres ou a casais homossexuais. "Durante a revolução sexual ninguém previu que casais homossexuais conquistariam o direito ao casamento, mas também não imaginavam que 40 anos depois muitos países ainda tratariam a relação entre pessoas do mesmo sexo como um ato criminoso", disse Lacube. "O mesmo vale para a liberdade feminina. Em muitos países as mulheres ainda são tratadas como uma mercadoria. Em outras sociedades elas mesmas se colocam nessa situação por acharem mais fácil aceitar as regras do que lutar contra elas. Muitas feministas devem se revirar no túmulo diante disso".

O feminismo existe há séculos, mas foi em 1968 que tomou forma como movimento no qual as mulheres lutavam por igualdade. Entre suas principais exigências estava o direito à educação, empregos e salários iguais. Hoje as reivindicações das mulheres incluem também o combate à violência doméstica (tanto física quanto psicológica), à exploração sexual e à situação precária ainda vivida por muitas mulheres em países maios conservadores. Mas muitos aspectos da luta feminista inicial persistem, como a luta pelo direito ao aborto, ainda ilegal em muitos lugares, e o salário que, na maioria dos casos, ainda é inferior ao dos homens.

A escritora Simone de Beauvoir, autora de análises sobre a opressão feminina e tratados sobre o feminismo contemporâneo, afirmava que "para uma mulher, a liberdade começa no útero". Com isso ela pretendia demonstrar que nenhuma liberdade é completa com a chegada de uma criança indesejada, sem falar na igualdade de salários ou educação. Grande parte dessa emancipação foi conquistada, mas o problema do casamento e da paternidade prevalece. "Os homens já não esperam casar com virgens, da mesma forma que há cem anos não esperavam casar com uma mulher que houvesse sido beijada. Os padrões mudam, mas a verdade é que sempre seguimos alguma regra", diz Elisabeth Daibleu.

A questão principal é que muito do que disseram ter mudado durante a revolução sexual não avançou, ou pior, regrediu. Segundo Daibleau, naquela época se pregava contra o casamento, quando na verdade a forma do casamento é que precisava (e precisa) ser alterada. "É difícil imaginar que continue a existir um contrato de exclusividade sexual e parceria doméstica no mundo em algumas décadas ou mais", ela diz. Mas não importa o quão liberal a sociedade se torne, as pessoas ainda se casam e têm filhos, pois isso significa poder dar às crianças de uma sociedade a proteção que elas precisam.

Certamente é difícil imaginar como as regras morais irão se adaptar às novas variações da sociedade, mas "precisamos de uma verdadeira revolução". A sociedade já mostra sinais de mudanças para uma maior abertura, mas 40 anos se passaram e mudamos pouco neste período. "Precisamos de um novo rompimento com as regras prevalecentes. Essa revolução permitirá a livre opção pela paternidade de ambos os lados. O uso de contraceptivos será aceito por todos os setores da sociedade, inclusive pelo Papa. As mulheres poderão viver a igualdade pela qual lutaram", afirma Lacube.

Enquanto essas mudanças reais não existirem, "a revolução de 68 continuará a ser um período de mudanças históricas que marcaram uma geração e influenciaram as próximas intelectualmente, mas que deixou muitas coisas para serem resolvidas depois. Ainda temos um longo caminho em direção à verdadeira liberdade", afirma Lacube.

Conquistas da revolução sexual



princípio do tratamento de doenças sexualmente transmissíveis
uso de métodos contraceptivos como a pílula e a camisinha
igualdade no seio da família
mudanças nas relações entre homens e mulheres
liberação das mulheres
mobilização dos movimentos homossexuais
início de uma maior comercialização e mercantilização da sexualidade através da pornografia
relaxamento da censura



visite também:

http://perolasdophotoshop.blogspot.com
http://aelementar.blogspot.com

on 13:45

0 comentários: